Lendas chinesas sobre a origem do mundo
Na China, a criação explica-se através do yin e do yang, energias que se fundem para criar o Universo.
O yang é uma energia masculina, ativa, clara e ímpar; o yin é considerado o princípio feminino, em repouso, escuro e par. São representados pelas metades preta e branca de um círculo e constituem todos os aspetos da vida.
No Universo, estas energias podem estar em expansão e diluírem-se, ou, pelo contrário, aproximarem-se e concentrarem-se.
São simbolizadas por dois traços: contínuo para o yang, descontínuo para o yin.
Ao longo do tempo, muitas histórias e lendas foram sendo contadas em redor desse conceito, profundamente enraizado na cultura chinesa.
Existem dois tipos de lendas sobre a origem do mundo:
Sobre a abertura do céu e da terra, e a formação do mundo e todas as coisas;
Sobre a origem dos humanos, incluindo a origem das etnias.
As lendas sobre a abertura do céu (Yang) e da terra (Yin) são divididas em três tipos:
Um ou vários deuses criaram o mundo;
Um gigante que se transforma em todas as coisas do mundo;
O mundo nascendo da transformação da natureza.
Diversas etnias têm suas lendas sobre a origem do mundo. Na mitologia Han, é um gigante chamado Pan Gu quem cria o mundo. Depois, surgem os primeiros senhores do Céu e da Terra, cada um dando o seu contributo ao Homem.
Os principais são:
Nü Wa (Mãe da Humanidade), deusa que criou o homem e as regras de casamento.
Fu Hsi (ou Pao Hsi) (Pai da Escrita), mítico primeiro imperador da China. É reputado por ser o inventor da escrita, da pesca e da caça.
Shen Nong (ou Tian Zu) (Divino Lavrador), a lenda diz que o deus Jiang Shen Nong foi imperador na antiguidade. Inventou a agricultura e a medicina. É normalmente representado por dois cornos, que simbolizam a sabedoria.
Mais tarde, surge na mitologia chinesa o Imperador de Jade, chamado também de "Imperador do Céu", que é o deus mais supremo no budismo e no taoismo, e tem controle sobre todos os deuses dos três mundos: o mundo humano, o mundo celestial e o mundo subterrâneo
O mundo veio de uma bola cósmica, envolta em trevas, flutuando no universo. Dentro da bola, havia um espírito. O espírito foi-se desenvolvendo em silêncio, no seu interior, ninguém sabe por quantos anos, até que finalmente esse novo espírito, chamado Pan Gu, nasceu. Pan Gu vivia dentro da bola, com os olhos meio fechados, absorvendo a nutrição da bola, dormindo tranqüilamente.
Milhões de anos se passaram assim, Pan Gu cresceu e virou um gigante. Um dia, ele abriu totalmente os olhos. Mas porque se encontrava em total escuridão, Pan Gu não conseguiu ver nada.
Ele pensou que o negrume em frente dos olhos fosse por que ele não tivesse acordado totalmente; limpou os olhos, mas mesmo assim não via nada. Limpou várias vezes os olhos, mas em frente dele existia somente uma escuridão sem fim. Ele ficou bravo, pulando e gritando, pedindo pela luz, batendo na bola para quebrar o mundo escuro.
Pan Gu ficava pulando e gritando, ninguém sabe por quantos anos; finalmente, seus gritos e todo o barulho que fez atravessaram a bola e chegaram aos ouvidos do Imperador de Jade no céu.
Ao ouvir o barulho, o Imperador de Jade ficou muito feliz. Ele pegou um machado que tinha ao seu lado, e o jogou dentro da bola para Pan Gu.
Pan Gu, pulando e gritando, de repente, viu um fio de luz quando o machado atravessou a bola. Ficando surpreendido, ele alcançou a mão para tocar a luz. Ao mesmo tempo, o machado chegou e caiu na sua mão.
Sentindo que alguma coisa tinha caído na mão, ele deu uma olhada: era um machado. Mesmo não sabendo de onde veio o machado, ele ficou muito feliz e decidiu quebrar a escuridão com o machado.
Com a primeira machadada, Pan Gu ouviu um barulho enorme, tão forte que pareceu quebrar tudo. Uma racha apareceu na bola, e uma luz brilhante veio de fora.
Ele ficou tão alegre que por momentos, se deteve, exclamando sua emoção. Mas subitamente, viu que a racha ia-se fechando e a luz sumindo. Ele jogou o machado no chão e empurrou a parte de cima da bola para manter a racha, e a luz.
Sabendo que, se desistisse, a bola fecharia de novo e ele perderia a luz, Pan Gu ficou sustentando a parte de cima com muita força. As juntas dos seus ossos começaram a estalar, Pan Gu estava crescendo.
Todos os dias, ele crescia um Zhang (medida chinesa, 1 Zhang = 3 metros), e a racha aumentava um Zhang. Muitos anos se passaram, Pan Gu chegou à altura de 18 milhas de Zhang, o mesmo acontecendo com a racha.
Ao ver que os dois lados da racha ficaram suficientemente afastados um do outro, não podendo mais fechar, Pan Gu sentiu-se aliviado, e começou a dar uma olhada ao redor dele: a escuridão em cima tinha virado o céu, mudando a cor para azul claro; a escuridão, em baixo, mudou para terra grossa, de cor amarela-marrom.
Olhando para o céu azul claro, tão grande que parecia não ter fim, e a terra amarela, grossa e ampla, Pan Gu sentiu-se muito alegre: a escuridão tinha-se retirado e a terra estava coberta pela claridade. Ele começou a rir.
Ele riu tanto que, de repente, teve um colapso e seu grande corpo caiu no chão. Pan Gu havia morrido. Mas, na verdade, ele não morreu. Seu corpo brilhou e as partes da sua essência física começaram a se transformar.
O seu olho esquerdo voou para o leste do céu, e virou o sol brilhante que ilumina tudo. O seu olho direito voou para o oeste do céu e virou a lua terna.
A sua respiração transformou-se no vento da primavera que acorda a Vida e nas nuvens que flutuam no céu; a sua voz, no raio que ilumina as nuvens escuras com um trovão ensurdecedor.
Seus cabelos e barba voaram em todos os sentidos e viraram florestas densas, ervas prósperas e flores coloridas. Seu suor atingiu o céu e virou estrelas brilhantes. Seus braços e pernas se estenderam e formaram montanhas.
Suas veias tornaram-se caminhos serpenteando a terra, onde seu sangue fluiu, formando os rios. Seus dentes e ossos se espalharam e viraram metais brilhantes; jades brancos, pérolas cintilantes, ágatas lindas e tesouros abundantes. Da sua saliva, surgiu a chuva que umedece a terra. O que restava da vida em seu espírito virou lentamente em bichos, peixes, pássaros e insetos, e trouxe vitalidade para o mundo.
pan gu
Nü Wa criou os humanos
Nü Wa é uma deusa que nasceu da terra.
Um dia, ela estava andando no campo, e olhou para as montanhas onduladas, os rios correntes, as florestas densas; viu que os pássaros estavam cantando e voando no céu, os peixes estavam brincando na água, os insetos estavam pulando na grama, o mundo era lindo. Mas Nü Wa se sentia muito sozinha e infeliz, nem ela sabia porquê.
Ela exprimiu sua solidão para as montanhas e as florestas, mas elas não a entenderam; ela contou seus pensamentos para os bichos e pássaros, mas eles não a entenderam. Sentando-se na beira de um lago e olhando para sua sombra na água, Nü Wa sentiu-se muito desapontada.
Uma brisa ligeira passou, uma folha caiu na água e causou ondulações leves, a sombra de Nü Wa ficou oscilando na água. De repente, Nü Wa percebeu que lhe faltavam vidas iguais como ela.
Nü Wa
Pensando nisso, ela pegou um pouco de lama amarela na beira do lago, amassou-a, e formou uma figura semelhante à sua sombra na água. Era uma figura pequena, com uma cara parecida, tendo duas mãos e dois pés. Quando ela colocou a figura no chão, a figura ganhou vida. Nü Wa ficou muito feliz, ela continuou fazendo muitas figuras, e chamou-lhes "humanos", moldando tanto homens como mulheres.
Porque os humanos foram criados simulando a aparência da deusa, eles receberam disposições e comportamentos diferentes de outras vidas. Eles sabiam falar a mesma língua de Nü Wa. Eles conversaram com ela, aplaudiram ao redor dela, e depois, saíram do seu lado e se espalharam.
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