quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

Dèjà Vu


A sensação de dè já vu é estranha e complexa: de repente, a pessoa sente como se estivesse vivendo uma experiência pela segunda vez, mesmo quando é óbvio que isso não é possível – como quando a pessoa visita uma cidade pela primeira vez e tem a sensação de que já esteve em um mesmo ponto turístico anteriormente.
Esse fenômeno é produzido por nossa mente, que adora se lembrar de objetos, mas não das configurações ou da localização deles. Quer um exemplo da diferença entre memória e dèjà vu? Você percebe que seu amigo está usando uma jaqueta azul parecida com uma jaqueta do seu irmão, certo? O fato de que a roupa do seu amigo fez você pensar na roupa do seu irmão tem a ver com memória.
Agora, se você precisar descrever a ordem de organização dos remédios na prateleira de uma determinada farmácia, a tarefa vai ficar mais difícil. No entanto, se depois de pensar nas prateleiras você precisa ir até uma farmácia e acaba prestando atenção na disposição de remédios, é bem possível que você tenha essa sensação de familiaridade, de dèjà vu, de que já vivenciou aquilo antes.
 

– Filtros

Imagine que duas pessoas presenciam o mesmo acidente de trânsito, provocado por dois carros. Nos relatos à polícia, é bem possível que ambas as testemunhas prestem depoimentos diferentes, sabia? Enquanto uma das pessoas pode afirmar com certeza que o carro vermelho capotou cinco vezes depois de bater contra o carro azul, a outra testemunha pode enfocar no fato de que o motorista do carro vermelho estava usando o celular segundos antes do acidente.
Essas diferenças de testemunhos acontecem porque cada uma dessas pessoas tem uma carga de experiências emocionais distintas. De repente, a testemunha que falou do celular pode ter vivido uma experiência negativa por causa desse tipo de imprudência; já a outra testemunha, como não vê problemas na mistura entre direção e WhatsApp (pois é, tem gente que não se tocou do óbvio ainda), ficou focada no choque entre os veículos e no acidente em si.
O fato é que cada indivíduo tem suas próprias narrativas pessoais que, por sua vez, se formam a partir de suas experiências, suas crenças e seus valores – a soma desses fatores acaba moldando a maneira como formamos nossas memórias.
Esse tipo de filtragem acaba às vezes sendo responsável por inconsistências em depoimentos de testemunhas sobre crimes e acidentes e, claro, por fazer com que as pessoas tenham noções equivocadas a respeito do que se lembram. De qualquer forma, é curioso reparar como nossas experiências pessoais interferem na construção das memórias que temos.

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