O que comemos após a prática de exercício físico tem alguma influência sobre os seus benefícios do treino físico para a saúde? Sim, de acordo com um estudo da University of Michigan, nos EUA, publicado na semana passada no “Journal of Applied Physiology”.
É sempre uma tentação: após uma ida ao ginásio, começam a pairar nas nossas cabeças imagens de belos doces, grandes bifes com batatas fritas, entre muitas outras singelas iguarias. Mas será que uma refeição composta por um prato de massa com carne rematada por uma mousse de chocolate pode ser uma compensação saudável após o exercício?
Algumas dietas alimentares, tais como a Atkins, banem por completo os hidratos de carbono da alimentação, substituindo-os por proteínas, com o intuito de promover uma maior perda de peso, mas, como resultado, estas dietas já provocaram muitos casos documentados de graves situações de saúde.
O que o bom senso e os nutricionistas nos dizem é que todos os alimentos da roda alimentar devem estar presentes numa dieta equilibrada, porque eles são necessários para o bom funcionamento do organismo. Analisando a pirâmide alimentar, vemos que, por ordem decrescente de importância, aparecem em primeiro lugar os hidratos de carbono integrais (com baixo índice glicêmico), como os pães escuros e o arroz integral, seguindo-se os legumes e as frutas, as leguminosas, os peixes e carnes magras e, por fim, os alimentos processados e a carne vermelha, que devem ser evitados o mais possível, rejeitando-se também todas as fontes de gorduras trans (hidrogenizadas).
De facto, este novo estudo vem reforçar mensagens antigas, mas acrescenta alguns dados que podem fazer a diferença para quem quer retirar o máximo proveito do exercício físico.
O estudo, liderado por Jeffrey F. Horowitz, mostra que uma refeição composta por alimentos com um baixo teor de hidratos de carbono após a prática de exercício aeróbico melhora a sensibilidade à insulina.
Uma maior sensibilidade à insulina significa que o corpo tem uma maior capacidade de processamento do açúcar e de armazenamento do mesmo nos músculos e noutros tecidos onde ele pode ser usado como combustível. Quando a sensibilidade à insulina está prejudicada, situação comummente designada por “resistência à insulina”, aumenta o risco de várias patologias, sendo as mais prevalentes a diabetes tipo 2 e as doenças cardíacas.
Neste estudo, foram analisados 9 homens sedentários mas saudáveis, com idades entre os 28 e os 30 anos, os quais foram comparados com um grupo de controlo. O trabalho incidiu sobre a análise dos efeitos de três refeições diferentes sobre o metabolismo, após 90 minutos de exercício moderado realizado na passadeira e na bicicleta ergométrica, tendo os resultados sido comparados com o do metabolismo em repouso. Os indivíduos jejuavam durante a noite antes de realizarem cada sessão de exercício, que acontecia logo pela manhã.
A primeira refeição oferecida aos voluntários respeitava os princípios de uma dieta equilibrada, com proteínas, hidratos de carbono e gordura, sendo que o total de calorias ingeridas correspondia aos gastos calóricos ocorridos na sessão de exercício. A segunda refeição proposta também era equivalente ao gasto calórico do exercício físico, mas continha cerca de 200 g de hidratos de carbono (menos de metade dos hidratos de carbono de uma refeição equilibrada). A terceira refeição apresentada aos participantes tinha menos calorias do que as “queimadas” durante o treino aeróbio (cerca de menos um terço do que as das outras duas refeições) e um teor relativamente alto de hidratos de carbono para repor os “açúcares” queimados durante o exercício.
Em todas as três refeições (após o exercício físico), os investigadores afirmam ter havido uma tendência para um aumento da sensibilidade à insulina. Mas, no caso dos participantes que comeram a refeição com menos hidratos de carbono, a sensibilidade à insulina foi ainda maior.
Embora a perda de peso seja importante para melhorar a saúde metabólica das pessoas com excesso de peso e obesidade, estes resultados sugerem não ser necessário passar fome para retirar ainda mais proveito da prática de exercício físico, bastando uma escolha inteligente dos alimentos que se consome e, claro, a prática de algum desporto.
Este estudo também reforçou um dado já verificado em estudos anteriores. Afirmam os cientistas que os benefícios para a saúde resultantes do exercício físico são obtidos da sessão realizada mais recentemente, caindo por terra anteriores teorias que afirmavam serem necessários meses e até anos de treino para que a prática de exercício fosse proveitosa.
"Muitas das melhorias para a saúde metabólica associadas ao exercício vêm, em grande parte, da sessão de exercício mais recente e não do 'fitness' per si", resumiu o investigador Jeffrey F. Horowitz numa nota enviada à imprensa, acrescentando, no entanto, que "o exercício é muito importante, mas também se deve ter em conta o que se ingere após o exercício."
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