Ao passar pela situação de perder um ente querido o ser humano normalmente é tomado por muitos novos sentimentos e muitas reflexões. Estes sentimentos e reflexões variam muito entre as pessoas, e também variam muito entre diferentes momentos da vida de uma mesma pessoa, tais como:
- Idade
- Saúde
- Se foi repentina a perda
- Cultura
- Crenças religiosas
- Segurança financeira
- Vida social
- Antecedente de outras perdas ou eventos traumáticos.
Cada um dos fatores acima pode aumentar ou diminuir a dor e o sofrimento que a morte de alguém que amamos nos causa. O processo pelo qual uma pessoa passa após a perda por morte de alguém que se ama é chamado luto. O luto necessita de algum tempo para ser resolvido e não deve ser apressado. Nas horas e dias seguintes à morte de alguém que se ama, a maioria das pessoas passa por uma fase de descrença, ficando totalmente “atordoada”, como se não pudesse acreditar no acontecido e mesmo quando a morte era esperada esta sensação pode surgir.
Ver o corpo da pessoa falecida pode, para alguns, ser um modo importante de começar a ultrapassar tudo isto. O velório e o enterro podem ser situações onde a realidade começa a ser encarada e isto, apesar de muito difícil, auxilia a lidar com a situação, o fato é que vivenciar estes momentos constitui um modo de dizer adeus àqueles que amamos.Velório, enterro e todas as situações que estão associadas aos primeiros momentos da morte de alguém podem parecer demasiado dolorosos para que sejam vividos, mas o fato é que fugir aos mesmos pode levar a um arrependimento tardio. Ou seja, por mais doloroso que seja encarar esta realidade, é justamente a dor que a realidade dos acontecimentos mostra que dá início à formação da aceitação e compreensão.
CRIANÇAS:
Apesar das crianças não conseguirem compreender o conceito de morte até cerca dos seus três ou quatro anos, elas sentem a perda de alguém próximo da mesma forma que os adultos. É absolutamente certo que também na infância os sentimentos de angústia e o processo de luto são fortes. No entanto, as crianças têm uma noção de tempo diferente da dos adultos e o processo de luto poderá “passar” muito rapidamente. Nos seus primeiros anos de escola, as crianças poderão sentir-se responsáveis pela morte ocorrida na sua família e deverão ser asseguradas de que a culpa sentida é infundada. As crianças poderão não falar do sucedido por temerem estar a piorando ainda mais a situação e por não quererem fazer sofrer os restantes, mas tanto com as crianças como com os adolescentes, nunca se deve evitar o assunto ou colocá-las à parte. Por isso, também eles devem participar do funeral e de todo o processo.
Alguns adultos que convivem com a criança normalmente dizem a ela que a pessoa falecida foi viajar ou que virou uma estrelinha. Não é uma forma emocional saudável de contar à criança sobre a morte, pois além de não ser uma história verdadeira, a criança pode criar a expectativa de que a pessoa falecida retornará em algum momento. Seria interessante contar à criança a verdade em uma linguagem cuidadosamente amorosa e adequada à sua idade para que ela crie mecanismos psicológicos de aceitar e compreender o ocorrido.
AQUELES QUE FICAM “PRESOS” AO LUTO:
Há pessoas que parecem não passar pelo processo de luto, não choram no funeral, evitam falar da pessoa que perderam e que voltam à sua vida “normal” rapidamente. Esta é a sua forma normal de lidar com a perda sem consequências negativas, mas outras pessoas poderão, ao contrário, sofrer sintomas físicos e passar por episódios repetidos de depressão nos anos seguintes. Algumas pessoas podem não ter a oportunidade de passar pelo processo de luto da melhor forma, uma vez que têm de continuar a sua vida profissional ou familiar, não tendo oportunidade ou mesmo o direito de o fazer. Isso não quer dizer que a pessoa não está sofrendo, mas significa que muitas vezes, em alguns momentos da vida, as pessoas precisam manifestar uma força que elas mesmas desconheciam possuir.
Algumas pessoas podem iniciar o processo de luto mas permanecer no mesmo sem o resolver. Nestes casos, a dor e a angústia por quem se perdeu mantêm-se e podem mesmo passar anos sem que a situação seja realmente resolvida. A pessoa pode continuar a não aceitar que perdeu quem faleceu, mantendo-se na fase de descrença já referida ou, por outro lado, só conseguir pensar em tal pessoa, mantendo, por exemplo, o quarto da pessoa falecida intacto, como uma espécie de local de lembranças vivas. Nota-se que quando o processo de luto é resolvido o quarto é desmanchado, pois houve um processo psicológico interno de elaboração de sentimentos e as lembranças não necessitam mais estar contidas em objetos.
Tentar negar o sofrimento ou evitá-lo parece apenas criar mais problemas graves no futuro. Para atravessar o processo de luto de maneira saudável, é melhor entender o que é conviver com a perda.
Antes de uma pessoa em luto sentir que sua dor está amenizada ou extinta, ela geralmente passa por 4 fases:
1 – Choque – A pessoa se sente atordoada ou adormecida;
2 – Negação – A pessoa fica em estado de incredulidade, se faz perguntas do tipo: “porque isto aconteceu?” ou “porque eu não evitei isto?”. Procura maneiras de manter a pessoa amada ou a perda consigo (exemplo do quarto intacto da pessoa falecida); tem dificuldades de começar a sentir a realidade do ocorrido;
3 – Sofrimento e desorganização – A pessoa tem sentimentos como culpa, depressão, ansiedade, solidão, medo, hostilidade. Pode culpar qualquer um ou qualquer coisa pelo ocorrido, incluindo a si mesma. Pode apresentar sintomas físicos como dor de cabeça, dor de estômago, cansaço constante e falta de ar, ou afasta-se dos contatos sociais e da sua rotina.
4 – Depressão – etapa em que a pessoa já teve alguma tomada de consciência do que aconteceu e por isso, sente-se frequentemente triste, chora intensamente, não tem prazer nas atividades, pensa recorrentemente acerca da morte e no ente falecido, isola-se. Estes sintomas, se forem muito intensos e persistirem no tempo, podem ser indicativos de um possível estado depressivo.
Culpa – é um sentimento muito comum. As pessoas começam a pensar em tudo o que poderiam ter dito ou feito para impedir essa morte. Por outro lado, a culpa também pode surgir em consequência do alívio pela morte de alguém que era muito querido mas que estava a sofrer. Por exemplo, morte de uma pessoa com uma doença terminal que estava num estado de sofrimento intenso.
Ansiedade – está associada a um período de agitação e ânsia pelo que foi perdido. O sujeito muitas vezes deseja encontrar a pessoa falecida, e por isso não consegue relaxar.
Agressividade – em alguns casos, o indivíduo revolta-se contra a perda, isto é, sente-se muito zangado e irritado por estar a viver aquela situação. Este sentimento pode ser voltado para si mesmo ou para os outros (por exemplo, para os médicos que não conseguiram salvar a pessoa amada, para Deus ou para amigos ou outras pessoas significativas) Reintegração – é geralmente a última etapa do processo, na qual a pessoa volta à “vida normal”.
Embora a morte seja um tema complexo e por isso mesmo envolve questões muito pessoais e íntimas, é importante não negar os sentimentos, fingir que está tudo bem só vai aumentar a dor. Não pular etapas e, se necessário, procurar ajuda de um profissional são atitudes que auxiliam na formação da compreensão e aceitação da realidade.
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